O tempo é feio e seco, a poeira paira no ar, mas
o ipê amarelo, é lindo de se olhar, não há folhas nos seus galhos, apenas ouro
e mais ouro. Porque será que o ipê mostra assim o seu tesouro? Ora, meu caro
menino, esta árvore possante busca no fundo da terra, lençol d’água triunfante.
E como o tempo é de seca e ela não quer gastar água, lança ao chão as suas folhas. Faz isso sem grande mágoa. Você sabe
que as folhas deixa cheio de umidade o ar que se converte em nuvens, eis a
grande verdade. Se a água é pouca na terra, o ipê com seu saber evita a
transpiração, por isso pode viver. E quando as chuvas vierem o ipê volta a
vestir, folhas verdes e viçosas, que ficam no alto a sorrir.
A felicidade aqui da minha varanda é ver os
ipês, que teimam em florescer. Para florescer eles têm que perder todas as
folhas. Árvore pelada, na cabeça da gente, está se preparando para morrer. Mas
em vez de morrer o que os ipês fazem? Eles florescem. [Rubem Alves] Aglair
Grein-psicanalista
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